terça-feira, 5 de maio de 2009

Leis Básicas.

Uma névoa gelada pairava sobre a cidade perdida no calor. A manhã estava especialmente fria, de uma forma que há muito tempo não se via. Desejou um corpo quente do seu lado e repensou sua vida em 5 minutos, enquanto espreguiçava-se demoradamente, dolorosamente, inconformadamente.
Saiu da cama com a relutância peculiar, apenas um pouco afoita pela eminente explosão da bexiga. Não seria agradável!
Na cozinha preparou rapidamente seu café. Os olhos, vira e mexe, buscando o relógio da parede.
Sabia que estava adiantado, por isso tinha um tempo.
Abriu a geladeira num ato inconsciente e viu que a bandejinha de ovos chegou do mercado e lá ficou plastificada e quase que hermeticamente fechada. Relutante por seu estado de quase atraso, mas sem conseguir se conter, pegou a embalagem para abrí-la e guardá-los na porta da geladeira, afinal era o lugar apropriado e os dois últimos que haviam sobrado da última compra poderiam estar se sentindo sós.
“O tempo urge”, pensou. Lembrou de sua mãe dizendo que somos escravos do relógio e se apressou na lida com a embalagem dos ovos. O plástico era duro de romper, usou a faca suja de geléia de laranja.
Depois de aberta, retirou o primeiro ovo e ao depositá-lo no alto da porta, percebeu que o danado estava rachado, ele se abriu. Claro, Lei de Murphy!
Uma linda cachoeira amarela mesclada com uma outra substância transparente desceu porta abaixo vagarosamente, desesperadoramente, enfurecedoramente, até o chão.
Mas uma sensação de impotência a cobriu e a congelou, só o que pôde fazer foi comprovar a Lei de Newton, enquanto via os hipnóticos pingos dourados se desprenderem de todas as repartições da porta da Consul, tal qual uma cascata de champagne em uma pirâmide de taças de cristal.
Fitou o relógio que também estava amarelado e seus ponteiros começavam a girar numa velocidade fora do comum ao mesmos tempo que iam crescendo.
Girou e cresceu tanto que os ponteiros atingiram os armários, a pia, a mesa e as cadeiras, voou geléia, pão, biscoito, talheres, panelas , caçarolas, cadeiras, fogão, geladeira "pras quinta banda". Tudo isso girando e se misturando à gosma amarela e transparente num balé surreal e incrível que durou a eternidade de 3 segundos.
Depois de se recompor, pegou o celular enfiou na bolsa, trancou a casa e correu pra rua.
O tempo não para!

2 comentários:

  1. Ao invés de parar, ou de correr absurdamente, seria bacana se o tempo pudesse ser controlado,
    tal como um controle remoto.
    Já pensou, poder passar bem devagar um momento bom da vida, retardando-o... ou simplesmente "pular" aquela maré de azar?
    Seria bom, mas viraria uma zona né? rsrs
    abcs ae Dr.

    ResponderExcluir
  2. Eu teria dado um "stop" em muitas épocas da minha vida.. srrss

    ResponderExcluir