terça-feira, 29 de setembro de 2009

Sutura



A noite pareceu não ter fim, mas Helena conseguiu transpô-la. Tirou forças não soube de onde pra conseguir se levantar da cama e enfiar os pés nas Hawaianas rosa. Seu rosto desfigurado pelo flagelo noturno se resumia a duas olheiras gigantescas e indisfarçáveis.
Tinha que tomar um banho e se preparar pra mais um dia de trabalho na escola. Instantaneamente lhe veio a sala na qual daria aula e o rosto de Heitor, o aluno mais problemático da escola lhe sorria cinicamente.
Definitivamente se tudo que quisesse não fosse sair daquela cama onde passara as horas mais intermináveis de sua vida, preferiria se enfiar novamente nos lençóis e esperar quietinha por socorro.
O martírio da noite não tinha sido em vão, isso a consolava. Pensara e repensara em tudo o que ouvira e passara na noite anterior e nos últimos 2 anos, 5 meses e 3 dias. Agora sabia exatamente o que fazer diante da situação.
Sentou-se afundada no sofá com as pernas entreabertas e acendeu um Marlboro. Pensou mais um pouco, ficou olhando a fumacinha que subia, olhou pela janela e viu o dia ganhando força, tomou essa força para si e num gesto lento e solene estendeu o braço, alcançando o telefone e discou.
Do outro lado uma voz já conhecida atendeu rouca e sonolenta.
Helena apenas disse: Pode fazer!
O silêncio reinou por alguns segundos e então ela desligou.
Em seu banho matutino, limpou-se de todo rancor, mágoa e ressentimento que a instantes atrás eram como camadas e camadas de fel lhe cobrindo o corpo. Menstruou também todo o verde amargo de suas veias.
Sentia-se agora pura, limpa, vazia de tudo que a afligia e estava em paz consigo e com o mundo.
Nada. Nem Heitor, nem ninguém seriam capazes de lhe tirar a candura e o singelo sorriso dos lábios.
Secou-se demoradamente. Refletida no espelho do banheiro por entre os vapores do banho e mesmo com as "gigantescas e indisfarçáveis", se viu mais bonita e mais preparada para a vida.
Voltou para o quarto e enquanto se vestia olhou para a cama onde Rodolfo dormia tranquilo.
Sem ressentimentos, ao sair beijou demoradamente seus lábios com peculiar doçura. Disse baixinho em seu ouvido: Até logo amor!
E se dirigiu ao outro quanto onde alheio ao mundo dormia Pedro Otávio, seu filho. O abençoou com um beijo e foi pra escola.
No intervalo da aula, Neide, a babá de Pedro chama pelo celular: Dona Helena, vieram aqui e prenderam o Seu Rodolfo. Eu não entendi nada, foram entra...
Eu sei.
Interrompeu Helena. Ele não paga a pensão do Pedrinho.
E eu criei vergonha na cara.
Pensou.
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A ilustração aí de cima é minha também... há que se dar os créditos...srsrs

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Les Triplettes de Belleville


As Bicicletas de Belleville (Les Triplettes de Belleville) , dirigido por Sylvain Chomet é um filme que esteve em cartaz no Brasil em meados de 2003, mas como não é comercial, só rodou mais em telas alternativas. Se trata de uma animação que vi já faz algum tempo, mas como não se vive somente de novidades e sim de coisas que valham a pena , acredito que seja merecedor de divulgação.
O filme não tem muitos diálogos, mas nem por isso é parado. Conta as história de Madame Souza, um aportuguesa que cria o neto, um garotinho triste e solitário que a avó descobre ter um gosto especial por bicicletas. Durante o Tour de France, uma tradicional corrida francesa de bicicletas, Champion é sequestrado.
É interessante ver a forma como a corrida é prestigiada pela população, tudo regado a muita comida e sedentarismo.
Os personagens são bem caricatas, em sua maioria gordos, fazendo referência ao consumismo. Até uma suposta estátua da liberdade é obesa.
As duas cidades onde ocorrem a trama são Belleville, que remete à Paris e uma outra ”americana” à Nova York, porém, muito diferentes por conta do traço e a proposta do diretor. Há também umas tomadas aéreas urbanas incríveis, devido à complexidade.
O filme mistura técnicas de animação como os antigos desenhos de Walt Disney com animação gráfica, porém de forma sutil. As cenas possuem bastante detalhes poluindo um pouco, mas nada que desmereça a obra.
Um show à parte são as Trigêmeas de Belleville, cantoras de cabaré dos anos 30, que ajudam Madame Souza e o cachorro Bruno a resgatar Champion de sequestradores.
Enfim, quem curte desenho animado deve procurar ver.
Uma cena em especial que gosto muito é a pescaria de uma das gêmeas. Cômico demais.
A trilha sonora é maravilhosa!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Paciência - Uma Virtude

Calor...
Uma tiazinha de sombrinha caminha suada rente a um muro branco que irrita meus olhos e deslizando pela sobrancelha, uma gota salgada vai fazer com que eles ardam mais um pouco.
Se tivesse como atentar, poderia sentir outras rolando também por outras partes do meu corpo.
Giletes na garganta denunciam a falta d’agua...
Sol quente...sem vento. O combinado era às 15h. Poeira...
O céu num azul que faria suspirar qualquer brigadeiro não via flutuar nem uma nuvem se quer.
Nossa!!! 15h 5. Cadê esse infeliz?
A ira que sinto me faria destroçar o delinquente “filhadaputa” que quebrou a arvorezinha que alguns anos mais tarde faria sombra aqui onde eu estou torrando e vendo só esse toco seco enfiado no chão.
Meu, cadê esse cara? Será que o lugar era esse mesmo? Aaaai, uma coquinha agora!!
Impaciência. Tédio. Dor... Tudo arde. O suor coça.
15h 8m.
Chora, me liga, implora meu beijo de novo...”
“Alô.”
“Oooooh rapaz, Tudo bem?”
“Bão e você?”
“Já ta aee?”
“Já sim”
“Ta aí faz tempo?”
“Cara, uma meia hora já...”
“Meu, cê nem sabe... Não vai dar pra eu ir. Não deu par ficar pronto seu barato.”
*** ***
A foto foi uma gentileza de Anuska Nardelli, já conhecida aqui do blog. Brigadão!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

"Alheiidades"


Estava ali. Esperando o farol abrir naquele entardecer úmido e quente.
Chuvinha caindo e o calor reinando. Não sei porquê, me chamou a atenção aquela janela.
Uma realidade totalmente fora da minha e de meu cotidiano se escancarava ali na minha frente. Vidas ali dentro seguiam seus cursos alheias a quem estava na rua.
O sinal abriu e enquanto via a chuva caindo sobre o parabrisa, tentava imaginar as histórias que guardava aquela casa, como seria cada cômodo, o que escondiam as cortinas e quais mistérios guardavam cada um dos cantos da casa. A que histórias remetiam as fotos, os quadros, os móveis e cada bibelô...
Me perdi em pensamentos que me fizeram literalmente chegar em casa por instinto.
Enquanto estacionava, olhei pra minha casa e a vi como um simulacro, um cenário de particularidades, segredos, aromas, vergonhas, alegrias, solidões e tudo mais contido em qualquer outra casa, mas tudo agora, de uma forma singular.
Me toquei sobre minha curiosidade em relação à vida das outras pessoas; do valor que dou às “alheiidades” (relacionei isso ao sucesso do Big Brother) e me espantei com a multiplicidade dos acontecimentos - tudo acontecendo ao mesmo tempo e sem parar.
Claro que entrei e tranquei a porta...

E as cortinas? Lógico. Fechei.
Só fui abrir mais tarde, quando um barulho no vizinho me chamou a atenção.
***
Foto gentilmente cedida por Gerson Rossi, ele faz fotos lindas e sempre me "salva" srsrs.
Gerson, Brigadão!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vagabundagem?

Nossa, esse mês de agosto foi punk. Trabalhos de facul, Fórum de P. P., Free lance...

Minha mãe ta querendo me matar. Tô adiando minha visita já há ... ixi, nem sei quanto tempo. Mas calma, uma hora chega a hora.

E pior que setembro não será muito diferente, mas enfim, vamos ver o que acontece.

E esse blog então? O judiação! Só cinco postagens este mês. Onde já se viu?

Bom , mas logo aparece coisa nova. Tô trabalhando nisso.

Aaah! O site "Muito", aqui da cidade colocou esse meu espaço virtual numa relação de blogs de pessoas aqui de Rio Preto. Alguns eu já conhecia muito bem e outros, já to virando fã.

Não sei como meu link foi parar lá, nem o porquê, mas adorei e fiquei lisonjeado!

Segue ai abaixo o link do Portal.


http://www.muito.com.br/sjriopreto/